Observando meu viver

Wednesday, April 18, 2007

Azul

Eu me perco na beleza das coisas.
Posso por horas, olhar o mesmo céu azul e não me cansar dele. Posso por dias sonhar com a mesma pessoa. Posso por uma vida inteira, encontrar riso na vida.
Posso, eu sei que posso, resistir as maiores tempestades, com temor, mas com coragem.
Sei que posso ir fundo, posso ser profunda, mas me cabe em alguns momentos, manter-me na superfície, por bem estar, o mais puro bem estar.
Posso, eu sei que posso, e também outrora, sei que não posso nada.
Sei que me cabe zelar, sei que devo orar, respirar e aguardar que as coisas possam por si só.
Sei que o céu, continuará azul e lindo, mesmo que eu não olhe pra ele. E mesmo que ele não saiba, que ele não seja consciente, de quão azul e quão lindo é, ele permanecerá assim, porque é a natureza dele.
Posso enxergar só a essência das coisas, posso não ver só a essência, posso desconhecer a minha essência.
Eu sei que posso perceber só o tangível, sei também que não percebo e por vezes subestimo, o que simplesmente não reconheço, porque não está em mim.
Sei que posso e devo respeitar.
Sei que ainda – não com felicidade, divido em bom e ruim, em certo e errado.
Só somos as coisas quando me convém, quando é pra mim.
A minha flexibilidade de ser é grande, mas ainda não é plena.
Sei que posso mais, e isso dá uma vontade, uma vontade de que os dias existam, que eu olhe novamente pro céu azul.
E ele é azul, mesmo que as nuvens não o revelem, mesmo que a noite aconteça. Ele é azul, e é lindo.
Mesmo que ele não queira ser céu, ele é.
Mesmo que ele queira ser de outra cor, e ele tem breves momentos de tons diferentes, mas sua essência é azul.
E assim, ele tem seu lugar no mundo, contrastando com o verde, combinando com o mar, dando espaço para que o Sol corra sobre ele, dando espaço à chuva, permitindo que ela aconteça.
É só isso que importa: permitir que aconteça.

Sunday, April 08, 2007

Talvez

E assim, como um sonho, eu sei o que me falta quando só o vazio toma conta.
Me falta, e é a minha constante busca, a l u c i d e z.
Busco a ausência integral de ignorância.
E as vezes me perco em mim, me preencho de tudo que já se foi. Por quê?
Por que me falta lucidez, até mesmo a lucidez de mim mesma.
E me sobra todo o resto.
Apesar de eu afirmar o contrário, me sobra tempo, pra eu pensar que estou cansada.
E cansando me sobram reclamações e me falta gratidão.
E nessa busca, me falta amor e me sobra um desamor egoísta que, quer o que quer, a qualquer preço.
E mesmo nessa minha falta de amor, me sobra amor, que não é do nobre, e talvez nem mesmo do amor, mas é um querer.
E esse meu excesso de querer, as vezes, e repetidamente não quer. Ele não querendo me sobra espaço novamente para as minhas reclamações, essas sim proferidas com veemência.
Hoje me deu saudade do tempo que eu abraçava com mais lucidez, do tempo que eu abraçava desmedidamente, do tempo em que me disseram que abraçar de mais era incomodo, feio e inoportuno.
Deu-me saudade daquela garota que sai correndo rindo.
Talvez seja a minha idolatria pela alegria desmedida, há, e eu sei que há quem me ache a mais positiva e sorridente das criaturas. E pra mim incrivelmente ainda me falta o riso, ainda me falta amor...e eu ainda quero mais das histórias de tirar o fôlego.
Talvez eu persiga o desequilíbrio, buscando um equilíbrio que ainda não me agrada.
Talvez eu persiga uma lucidez, que no momento não me alegra.
Talvez eu tenha me preenchido do todo, e esquecido de me completar de mim.
Talvez eu queira voltar pro passado mais uma vez, talvez seja só medo de dar um passo a frente.
Talvez eu queira me reinventar, talvez seja o momento de eu ser eu mesma.
Talvez eu me modifique e me deixe pra traz.
Talvez eu esqueça do meu passado, talvez eu não encare o futuro.
Talvez eu sinta medo, talvez eu sinta pena de mim, talvez eu sinta culpa.
Talvez eu queira reescrever o que já foi, talvez eu veja um futuro incerto.
Talvez eu não ache justo.
O certo mesmo é que eu tenho uma pressa, mas uma pressa que não cabe dentro de mim.
Uma vontade de reescrever, de escrever um novo romance, um novo conto.
Uma vontade de fazer uma releitura de mim mesma. Nascer de novo, sem repetir um passado que não me favorece, não me orgulha e me deixa com uma saudade que machuca, que sufoca e que me faz chorar.