Olhem
Sento todos os dias na minha cadeirinha. E vejo:
Um hotel que há meses esta em reforma, eu me pergunto porque só aquela coluna de janelas não está pintada? Quem escolheu o lilás como cor? Que conceito quer se dar pro novo hotel? Será mesmo um hotel? Aquele homem forte não tem medo? Ele tem família? Ele cansa? Ele queria fazer outra coisa?
Continuo a olhar e vejo as janelas do que me parece um jardim de inverno, fico pensando que existe uma rede lá, e que um senhor elegante de quase 70 anos, está deitado, com uma manta nas pernas, o jornal na mão, comentando com a sua senhora que lava a louça do almoço a vergonha das invasões em Caxias.
Vejo um prédio verde como o meu, só que com janelas opacas. Já fui naquele prédio, tenho uns três clientes por lá, uma psiquiatra que trabalha a maior parte do tempo no Paulo Guedes e mantém uma secretária ali para que eu renove seus seguros com agilidade, e dois dos grandes traumatologistas e ortopedistas de Caxias. Dos meus cliente médicos, apenas um que me recordo com brevidade, e que provavelmente é doutor de fato merece o título e o meu respeito. Sempre elegante sempre pontual, sempre respeitoso, afetuoso e simpático.
Vejo também uma árvore com flores rosas e pergunto: Quem plantou a árvore? Ele sabia que as flores eram rosas? Ele sabia que faltariam árvores no mundo? Ele plantou porque quis, ou por consciência ecológica?
Vejo uma casa que nunca tem ninguém, outra que tem um cachorro solitário, sinto as delicias que alguma senhora de alguma dessas casas faz.
Vejo outra árvore mais distante, toalhas coloridas dando sinal de vida!
Vejo uma criança entediada na sacada. Duas camionetes iguais.
Janelas fechadas, plantas molhadas.
Vidas passadas, roupas guardadas.
Pessoas olhadas.