Observando meu viver

Wednesday, June 27, 2007

Poxa!

Eu sou uma ativista inativa, bem sei. Tá, eu não participo de nenhum projeto social, não sou voluntária em nada, não dou esmola por pura ideologia, mas esbanjo sorriso, e sempre digo “não tenho, obrigada” e nem sei porque eu agradeço, mas sempre agradeço.
Hoje é capa do jornal que o “Lendário mendigo morreu”.
Foi inevitável pensar, que sociedade é essa que eu vivo, onde se sabe da existência de um mendigo, se sabe onde ele supostamente mora, sabe que são condições “sub-qualquer nível de vida”,se sabe que ele vive com lixo e com cães, logo vive cara a cara com a doença, e noticia a morte dele como uma grande perda, como um grande fato.
Ou eu sou as avessas mesmo!Se a ausência dele foi sentida, é porque a presença dele era importante, ou será que não é assim? Se a presença dele era importante, teríamos feito algo nesses quase 50 anos de vida dele. Mas não, nos sentimos honrados em enaltecer a sua morte, inclusive a FAS doou um caixão pra ele, ó que maravilha, morto ele vai ter um lugar descente pra protegê-lo dos vermes que ele nutriu a vida inteira.
Sério, isso me deixa irritadinha. Não o fato em si, porque bem sei que se ele realmente quisesse, teria tido outra vida, mas essa compaixão hipócrita que nasce com a morte.
Morreu-virou santo, querido por todos. E saber que esta criatura teve uma existência solitária e distante.
Fico feliz com a morte dele, não acredito que o pós –morte vai ser diferente da vida, mas enfim, acho que ele poderá ter um pouco mais de paz onde quer que esteja.
Aos mundanos como eu, o meu repúdio, a esse amor que não constrói, que só sente pena, esse amor que não é amor. É puro bem estar, é puro ego.
Aos que choraram a morte desse homem, que teve uma existência toda para cativar os humanos, e não o fez – sinto pena.
Talvez ele fosse só um sábio, que preferiu viver com 42 cães, a ter um humano do lado dele.
Adoro humanos, bem gosto das criaturas da mesma espécie, mas que é válido pensar, sobre a escolha comodista, claro que sim, estar no mundo todos os dias requer um esforço tremendo.Mas que este cara pode passar de desvairado para um grande esperto, isso ele pode. Não foi feliz, não foi livre, não foi amado, não foi nada. Foi só um mendigo lendário rodeado de fiéis cães. E agora, tratam como se ele tivesse sido, um grande homem, que merece um enterro digno. Ora, se o homem era tão grande assim, que lhe fosse concedida uma grande vida digna. Morte não requer dignidade. E apodrecer dentro de um caixão, com linho azul marinho, não pode ser a melhor condição da existência de ninguém. Isso não é caridade, é quase covardia.
Infeliz do jornalista que registrou tudo, como registrou.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ah, mas garanto que a maioria das pessoas que comentaram a notícia exaltou o jornalista e a sensibilidade dele. A sensibilidade de um homem ao retratar a morte dum cara cuja vida ele não se prestou a retratar.
Não que seja culpa do jornalista - não é. Mas é bem patética a manchete, a notícia e o "célebre" ali.
Pelo amor de Deus, que o mundo vive de colunas sociais eu já sabia, mas daí a chamar um mendigo de 'célebre' sem ter movido um grampo pra deixar ele só na condição de célebre, sem mais a de mendigo é loucura, idiotice, burrice, estupidez, falta de senso.

Cara!

Tá, filosofei demais, não tem como colocar aqui, mas adorei o post, mesmo que a gente seja ativista inativa, acho que ter consciência já é uma grande coisa. Consciência... que o jornalista (e o editor, e o jornal em si) não teve, aliás.

=******

2:57 PM  
Anonymous Anonymous said...

Por isso (a notícia, teu post e o comentário da Amanda) que eu prefiro mesmo os cachorros.

5:47 AM  

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